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Bem Vindo a Pagina de Abdon Marinho, Ideias e Opiniões, Quinta-feira, 10 de Abril de 2025



A palavra é o instrumento irresistível da conquista da liberdade.

Escrito por Abdon Marinho


O desafio da miséria.

Por Abdon C. Marinho.

 

ASSISTIA a um dos noticiários da noite quando, em horário nobre, aparece um comercial do governo estadual à guisa de apresentar seu programa de combate à pobreza absoluta no estado. Segundo a peça, se não me falha a memória, já foram tiradas milhares de pessoas da condição de miséria mas que ainda existiriam 500 mil cidadãos vivendo tal flagelo. 

 

De tudo que ouvia naqueles trinta segundos de comercial o que mais me chamou atenção foi o depoimento de uma senhora dizendo que já teve que colocar água no fogo apenas com sal para beber e assim enganar a fome. 

 

Fiquei com aquela imagem na cabeça – forjado na leitura de livros, desenvolvi o hábito de conseguir “visualizar” o que leio ou escuto –, conseguia “vê” a senhora aquecendo a água, provavelmente numa “trempe” para depois beber como se fosse uma sopa de sal. 

 

É triste, é doloroso, é deprimente.

 

Embora seja do interior do interior, não lembro de tomar conhecimento de tamanho estado de miséria. Nem mesmo nas memórias das secas extremas em que os sertanejos caçavam os “gabirus” para comer, deparei-me com histórico de “sopa de sal”. 

 

Não faz muito muito tempo recebi um mapa sobre a taxa de pobreza dos estados brasileiros. O Maranhão apareceu nesse estudo como “campeão”, acima de outros estados do Nordeste, e bem acima dos estados de outras regiões. O único perto de rivalizar com o nosso estado, em tal estudo, foi o Estado do Acre. 

 

Trata-se de quadro desalentador. Talvez devamos, antes de quaisquer outras considerações, buscar saber como chegamos a esse estado de coisas. 

 

O Maranhão já foi o estado “El dourado” do Nordeste, para onde, nos momentos mais difíceis da vida no sertão nordestino as pessoas se mudavam para prosperar, criar os filhos e fazer fortuna. 

 

Não faz sentido nenhum que os demais estados tenham avançado enquanto o Maranhão, com todas as condições favoráveis, tenha regredido economicamente. 

 

Um outro estudo recente apontou que 54% (cinquenta e quatro por cento) da população era beneficiária do “bolsa-familia”. Mas não é só o “bolsa-família”, temos os seguros para pescadores, temos as aposentadorias rurais, temos o “pé de meia”, temos, agora, os vários programas assistenciais do governo estadual.

 

Em outras palavras, temos quase toda a população do estado dependendo do assistencialismo estatal. É dizer, se acontecer a catástrofe de suspenderem ou cortarem tais programas a população morre, o estado desaparece. Isso em um estado que já foi um dos mais promissores do país. 

 

Como disse acima, sou do interior do interior, e me lembro que as pessoas pobres de outrora, mesmo as que nada tinham, podiam cultivar uma roça de onde tiravam o arroz, o feijão, o milho, a mandioca, a macaxeira, o maxixe, o quiabo, o gerimum, a abóbora, a melancia; tinham canteiros em casa onde cultivavam, a cebola, o alho, o coentro, e várias outras coisas; tinham galinhas, patos, marrecos, porcos, cabras e bodes, ovelhas e até mesmo umas reses. Os pobres tinham, ainda o babaçu, de onde tiravam o azeite das amêndoas e utilizavam as cascas para fazer o carvão. 

 

As pessoas eram pobres mas não eram dependentes de esmolas estatais – que a época, sequer existiam. 

 

Repito: não faz parte do meu imaginário a lembrança de pessoas fazendo “sopa de sal”, como narrado no comercial do governo. 

Quer me parecer que éramos um estado de população pobre e agora somos um estado de população miserável. Como dizia o ex-governador Cafeteira, crescemos como rabo de cavalo: para baixo. 

 

Precisamos nos concentrar – enquanto evitamos que as pessoas morram de fome ou façam “sopa de sal” –, em entender como regredimos tanto e como faremos para superar esses desafios. 

 

O Maranhão ainda é um estado muito rico, possui ativos inquestionáveis em diversos seguimentos, mas, parece-me, não consegue fazer girar a “roda do desenvolvimento”. Chega a ser doloroso assistirmos, em pleno século XXI, que estejamos, ainda, na pauta de tirarmos milhões de pessoas da indigência. 

 

Acredito que o primeiro passo para fazer uma mudança é saber o que foi feito de errado até hoje. Não se trata de buscar culpados por transformar um estado de povo pobre em um estado de povo miserável – culpados todos somos –, mas buscar as razões com o propósito de fazer algo diferente. 

 

Vamos insistir no absurdo de esperar resultado diferente praticando os mesmos erros?

 

Não faz muito, nas minhas andanças, discutia soluções para a educação brasileira. Dizia: — olha para melhorar os níveis da educação de nossas crianças e adolescentes precisamos tornar a educação integral e bilíngue. Essa é a solução para elevar os níveis educacionais e para colocarmos mais recursos na rede vez que cada criança em tempo integral ou em atividade complementar equivalente, o município recebe o dobro em recursos se comparado à jornada normal; um aluno do EJAI ou EJAI/Profissional rendem cerca de 5 mil; crianças em creche pública também traz receitas para os municípios e estados. 

 

Para minha surpresa alguém me atalhou para dizer: — ah, doutor, temos muita dificuldades para preencher vagas no ensino integral, os pais não querem. Querem apenas que estudem um turno para no outro ajudá-los em suas atividades. 

 

Já era objeto de preocupação minha, a discrepância entre o número de alunos matriculados no ensino fundamental menor e os número de alunos do fundamental maior e entre esse e o número de matriculados no ensino médio. Qualquer um que examine os números percebe a existência de um sensível decréscimo. A medida que a idade avança a frequência na escola diminui.

 

Agora nos deparamos com a falta de interesse de muitos pais em proporcionar ou lutar por  uma educação pública de qualidade para os filhos, preferindo que estudem menos ou não estudem para tê-los em outras atividades. 

 

Vejam que isso é andar no contramão da história. Na minha infância os pais, mesmo os mais pobres, se esforçavam para mandar seus filhos para sede dos municípios onde podiam ter uma educação melhor. Muitos sofriam para alugar uma casa ou os mandavam para “casas de amigos ou parentes” para que tivessem melhores chances de estudar. 

 

As próprias crianças e/ou adolescentes, mesmo passando por dificuldades, tinham interesse em estudar, aliás, tinham na educação a única forma de ascensão social. 

 

Nos dias atuais não assistimos mais nada disso. Há uma total inversão de valores que os governantes  por razões diversas, não conseguem compreender ou romper. 

 

Tenho por certo que para vencermos o desafio da miséria e de atraso precisamos de educação. 

Abdon C. Marinho é advogado.